100 Anos de Imigração Japonesa

A imigração japonesa no Brasil começou no início do século XX, como um acordo entre o governo japonês e o brasileiro. O Brasil abriga a maior população japonesa fora do Japão. São cerca de 1,5 milhão de pessoas.

Razões

O Japão vivia, desde o final do século XIX, uma crise demográfica. O fim do feudalismo deu espaço para a mecanização da agricultura. A pobreza passou a assolar o campo e as cidades ficaram saturadas. As oportunidades de emprego tornaram-se cada vez mais raras, formando uma massa de trabalhadores rurais miseráveis. No Brasil, por sua vez, estava faltando mão-de-obra na zona rural. Em 1902, o governo da Itália proibiu a imigração subsidiada de italianos para São Paulo (a maior corrente imigratória para o Brasil era de italianos).
As fazendas de café, principal produto exportador do Brasil na época, passaram a sentir a falta de trabalhadores com a diminuição drástica da chegada de italianos. O governo brasileiro, então, precisou encontrar uma nova fonte de mão-de-obra. Desta vez, decidiu-se por serem atraídos imigrantes do Japão.
Com a eclosão da I Guerra Mundial, os japoneses foram proibidos de emigrar para os Estados Unidos, eram mal-tratados na Austrália e no Canadá. O Brasil tornou-se um dos poucos países no mundo a aceitar imigrantes do Japão.

A pré-Imigração

Apesar de receber japoneses durante o século XIX e nos anos iniciais do século XX, na condição de visitantes ou prestadores de serviços, não figurando como imigrantes, somente em 1906 chegou ao Brasil um grupo disposto a residir e estabelecer uma colônia. Liderados por Saburo Kumabe, o grupo situou-se, em 1907, no interior do estado do Rio de Janeiro, nos atuais municípios de Conceição de Macabu e Macaé. A colônia, situada na Fazenda Santo Antônio, durou cinco anos, fracassando por razões diversas, como falta de investimentos, epidemias e saúvas. Outro problema enfrentado pela comunidade nipônica fluminense, é que tratavam-se de um grupo heterogêneo - juiz, professores, funcionários públicos - onde não haviam agricultores ou pessoas com tradição de cultivar e cuidar da terra.

O Kasato Maru

O Kasato Maru é considerado pela historiografia oficial o primeiro navio a aportar no Brasil com imigrantes japoneses, em 18 de Junho de 1908. Chegou ao Porto de Santos trazendo 165 famílias, que vinham trabalhar nos cafezais do oeste paulista. Este ano de 2008 marca as comemorações dos 100 anos de imigração japonesa no Brasil.
Nos primeiros sete anos, vieram mais 3.434 famílias (14.983 pessoas). Com o começo da I Guerra Mundial (1914), explodiu a imigração: entre 1917 e 1940, vieram cerca de 160 mil japoneses para o Brasil. 75% foram para São Paulo, visto que o estado concentrava a maior parte dos cafezais.

A grande imigração nipônica

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o fluxo de imigrantes japoneses para o Brasil cresceu enormemente. O governo japonês passou a incentivar a ida de japoneses para o Brasil, por diversos motivos: o campo e cidades japonesas estavam superlotados, causando pobreza e desemprego. O governo também queria a expansão da etnia japonesa para outros lugares do mundo e também que a cultura japonesa fosse enraizada nas Américas, a começar pelo Brasil.
A maior parte dos imigrantes chegou no decênio 1920-1930. Já não iam apenas trabalhar nas plantações de café, mas também desenvolveram o cultivo de morango, chá e arroz no Brasil.

Gerações

A colônia japonesa do Brasil está dividida em:
-> isseis (japoneses de primeira geração, nascidos no Japão) 12,51%;
-> nisseis (filhos de japoneses) 30,85%;
-> sanseis (netos de japoneses) 41,33%;
-> yonseis (bisnetos de japoneses) 12,95%

Atualmente, existem no Brasil 1,5 milhão de japoneses e descendentes, sendo 80% no Estado de São Paulo e a maioria na capital. Da comunidade japonesa no Brasil, 90% vivem nas cidades. O bairro da Liberdade, no centro da capital paulista, representa o marco da presença japonesa na cidade. Outros focos importantes de presença japonesa no Brasil são o Paraná, o Mato Grosso do Sul e o Pará.

A Primeira Geração

A imensa maioria dos imigrantes japoneses tinha a pretensão de enriquecer no Brasil e retornar para o Japão em, no máximo, três anos. Todavia, o enriquecimento rápido em terras brasileiras era um sonho quase impossível de se alcançar. Submetido a horas exaustivas de trabalho, o imigrante tinha um salário baixíssimo: o preço da passagem era descontado no salário. Ademais, tudo o que o imigrante consumia deveria ser comprado na mão do fazendeiro. Em pouco tempo as dívidas se tornavam quase impagáveis.
A geração nascida no Japão foi aquela que mais dificilmente se adaptou ao Brasil. A barreira do idioma, os hábitos alimentares, o vestuário, o modo de vida e as diferenças climáticas acarretaram em um choque cultural extremo. Com o almejo de retornar o mais breve possível ao Japão, os imigrantes não se preocupavam em se integrar ao Brasil. Uma parcela considerável nunca aprendeu a falar o português.
Eis que, através de um sistema de parceria com o fazendeiro, muitos japoneses conseguiram comprar seus primeiros pedaços de terra. Após algum tempo de plantação, o imigrante tinha o direito de receber uma parcela da última. Tal ascensão social no Brasil resultou, para a grande maioria dos imigrantes, a permanência definitiva no Brasil.

A Segunda Geração

A primeira geração nascida no Brasil (segunda geração) viveu de forma semelhante aos pais imigrantes. Ainda dominados pelo desejo de regresso ao Japão, os imigrantes educavam seus filhos dentro da cultura japonesa. As crianças eram educadas em escolas japonesas fundadas pela comunidade. A predominância do meio rural facilitou tal isolamento. Cerca de 90% dos filhos de japoneses falavam japonês em casa. É de notar que muitos brasileiros de origem japonesa ainda possuem dificuldades em falar o português.
A segunda geração de japoneses no Brasil viu, definitivamente, sepultada a esperança de retornar ao Japão. A eclosão da II Guerra Mundial abalava a terra natal. Era mais seguro permanecer no Brasil. Muitos imigrantes começam a chegar neste período, atraídos pelos parentes que já tinham imigrado. Na década de 1930, o Brasil já abrigava a maior população de japoneses fora do Japão.
Quando o Brasil declarou guerra ao Japão, a comunidade japonesa foi diretamente atingida. A língua japonesa foi proibida de ser falada no País. As escolas japonesas foram fechadas. Em meio à situação, surgiu o Shindo Renmei, uma organização extremista japonesa criada no Brasil.

Shindo Renmei

O coronel aposentado Junji Kikawa fundou pouco após o final da guerra a organização secreta Shindo Renmei ("liga do caminho dos súditos", em japonês), para impedir as "notícias falsas da derrota" de se espalharem e para se matar os "derrotistas", também apelidados "Corações Sujos".
Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns japoneses radicais protestavam contra a posição brasileira na guerra e criavam panfletos pedindo a destruição do cultivo de seda (usada para pára-quedas, por exemplo) e hortelã (o mentol poderia aumentar a potência da nitroglicerina, era usado para resfriar motores e podia ser tóxico).
A maioria dos 200 mil imigrantes não aceitaram a derrota em 1945, e assim a colônia se dividiu em "derrotistas" (makegumi), menos de 20% da população, e os "vitoristas" (kachigumi).
Essa organização pretendia propagar no Brasil a idéia de que o Japão não tinha perdido a Guerra, pois seria uma invenção dos Estados Unidos para enfraquecer o Japão. Os imigrantes japoneses eram fiéis ao Imperador do Japão, Hirohito, e grande parte tornou-se membro da organização.
Quando o Brasil declarou guerra ao Japão, os japoneses passaram a ser perseguidos pelo governo brasileiro, e assim como aconteceu com as comunidades alemã e italiana do Brasil, a língua japonesa foi proibida de ser falada no País. Escolas japonesas foram fechadas e manifestações culturais nipônicas proibidas em território brasileiro.
O Shindo Renmei perseguiu os japoneses que acreditaram que o Japão realmente tinha perdido a guerra, entre katigumis e makegumis foram mortos oficialmente 23 pessoas entre 1946 e 1947. A organização perdeu força a partir do final de 1947, quando o governo do General Dutra, após interrogar 30 mil pessoas, prendeu mais de 300 suspeitos e condenou à expulsão do território nacional 155 japoneses, decisão esta que nunca foi colocada em prática.

A Terceira Geração

A partir da terceira geração no Brasil, os descendentes de japoneses passaram a se abrir definitivamente à sociedade brasileira. Os avós imigrantes trabalharam duro no campo para que seus filhos e netos tivessem futuro no Brasil. Ocorre, sobretudo na década de 1960, um grande êxodo rural dentro da comunidade nipo-brasileira. Os japoneses saem do campo e rumam para as cidades para concluir os estudos. A cidade de São Paulo torna-se, assim, a cidade com maior número de japoneses fora do Japão.
No ambiente urbano, os japoneses começaram a trabalhar em ramos ainda com raízes campestres. Pequenos armazéns foram abertos, onde vendiam produtos agrícolas, como frutas e legumes ou peixes. Os mais jovens se dedicaram aos estudos. Formaram-se em larga escala nas áreas biológicas e de exatas. Os descendentes de japoneses mudaram a paisagem de onde se aglomeraram. O Bairro da Liberdade é um exemplo da força da comunidade nipo-brasileira.

A quarta geração

Os bisnetos de japoneses, em sua maioria adolescentes e jovens, são os mais integrados ao Brasil. Exemplo disso é a miscigenação: 61% têm alguma origem não-japonesa. Os traços mestiços predominam entre esta nova geração. Os vínculos com o Japão ancestral são mínimos: a maioria sabe falar pouco ou nada de japonês.

O fenômeno Dekassegui

Vivem no Japão mais de 300.000 brasileiros, a maioria dos quais são dekasseguis (brasileiros de origem japonesa e seus conjugues, que vão ao Japão para trabalhar, a grande maioria como operários na indústria). A comunidade brasileira no Japão é a terceira maior fora do Brasil e, por sua vez, é a terceira maior comunidade imigrante no Japão, atrás apenas dos coreanos e chineses.
Inversão do fluxo migratório de brasileiros descendentes ou cônjuges de japoneses ao Japão à procura de melhores oportunidades de renda, iniciados na segunda metade da década de 80 do século XX. Nessa época, com a necessidade de atrair mão-de-obra para a rápida expansão econômica japonesa levou o governo daquele país a criar leis para facilitar a entrada de trabalhadores. Em 1990 foi editada a "Lei de Controle de Imigração", permitindo que japoneses e seus cônjuges ou descendentes até a 3ª geração possam exercer qualquer atividade legalmente por um período relativamente longo. Por outro lado a crise no lado brasileiro (alta inflação, crescente dívida externa e instabilidade política) levou a população (principalmente os mais jovens) a procurar melhores alternativas de vida em outros lugares (Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e, no caso dos descendentes de japoneses, o Japão).
A maioria dos brasileiros no Japão são escolarizados, mas são empregados como operários em fábricas de automóvel e eletrônicos. Muitos são submetidos a horas exaustivas de trabalho, ganhando salários pequenos para o padrão de vida japonês. A maior parte dos imigrantes no Japão vão aliciados por agências de recrutamento, legais ou ilegais.


Fonte: Winkipédia

2 comentários:

  1. O foda é encontrar traços da história da minha família no wikpédia. Mas certo, fora os primos dekasseguis, os parentes que passaram por isso e aquilo, a época do fim da segunda guerra é o exato ano que minha mãe nasceu, etc. Me lembro do meu pai contando que minha bisavó sonhava em voltar pro Japão. Quando os filhos tiveram condições, perguntaram se ela queria voltar. Então ela disse que não, toda a família entre pais e irmãos já tinham morrido.

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